Quarto 010

Logo após o término do jogo, que de fato foi bastante útil e prazeroso, todos nós da mesa encontrávamos num intenso paradigma, " Para onde vai Adele?". Acontecia que seu namorado havia se rebelado contra a brincadeira que ele mesmo havia pedido para entrar e havia deixado a garota sozinha num bar cujo ela nem tia um quarto. 
Era tarde da noite e depois de certos acontecimentos, era até perigoso deixar a garota ir embora só. Alicia havia se oferecido para dividir o quarto com a sonserina, mas assim como Chrono ( que havia feito o mesmo), ela estava com o quarto cheio. O único da mesa que estava livre para hospedes era eu. Por educação e sem esperança, ofereci uma noite e por mais incrível que pareça, ela aceitou.
Subimos as escadas juntos, ela atrás e eu na frente até que chegamos na porta do quarto. Parei na frente da mesma e virei para Adele.- Espera um momento.- Virei-me para a porta e entrei no quarto.
O local estava uma zona, as camas juntas, lençóis bagunçados e tudo empoeirado. Arrumei as camas, as malas, limpei o tapete e deixei tudo digno para uma bela dama. Então abri a port do quarto.- Bem vinda.
Olhei para Adele e me joguei na cama.- Pode escolher qualquer uma das duas camas, minha irmã não vem mais.

Eu não estava muito acostumado em arrumar as coisas, geralmente as deixava bagunçadas, eu me dou bem com a bagunça. Mas com hoje tenho uma visita, eu tinha que mostrar um pouco da educação que a tia Carrie havia dado. Olhei para o retrato de Milla e deveras sentia muita falta da mesma. As brincadeiras, besteiras e implicações. Como devia estar meu anjinho? De certa não havia sido uma boa ideia ter deixado minha irmã sozinha nessas férias em um ato rebelde e ter vindo para o Caldeirão. Mas agora estava feito.
Terminei de arrumar a cama no mesmo momento em que a porta do pequeno banheiro se abriu. Graças a Deus Adele não havia gritado, sinal que uma barata não havia aparecido. Adele me mataria se soubesse que omiti essa informação da mesma. Por sinal, Adele estava um tanto engraçada e eu não pude deixar de escapar a risada.
- Ficou bem.- Tentei controlar o riso e peguei minha trouxa de roupa limpa.- Bom, agora é minha vez. Se estiver com fome, tem doces na mala.
Abri a porta do banheiro e entrei no mesmo. Tirei a roupa e logo entrei naquela ducha fria, deixando o box aberto. Eu estava completamente melado de bebida e a ducha foi um tanto refrescante, a dúvida seria se eu iria conseguir dormir após ela. Vesti meu pijama e então sai do banheiro. - Pronto, limpinho.- Sorri e me joguei na cama em um mortal. A cama então fez um "crac" e foi ao chão comigo. Levantei e olhei envergonhado para Adele.- Bom...- Cocei a nuca.

O meu corpo ardia, não por causa da queda e sim por vergonha. Adele parecia preocupada mas ao mesmo tempo gargalhava e tentava me ajudar. Olhei para a garota.- Estou bem sim, claro que estou. Não vai ser uma quedinha dessas que vai me derrubar, correto? Opa, isso foi redundante.- Falei enquanto era guiado até a cama do centro do quarto.-Não me machuquei não, só não acredito que paguei mesmo esse mico... e ainda pago a diária dessa espelunca.- Suspirei olhando para as paredes.- Mas então, pode dormir eu irei ficar bem.
Sorri para Adele e deitei na cama em que estava sentado. Cobri-me e fechei os olhos. Não queria ver a garota mais preocupada, apesar de não estar dormindo.

Deveras não havia sido uma boa ideia ter tomado aquele banho frio. Agora, apesar de estar quieto e de olhos fechados, eu não conseguia dormir. 
Eu não queria incomodar Adele e na certa a garota já estava dormindo. Mulheres são delicadas mas dormem tão fácil quanto bebês. Tão meigas.
Eu estava em minha meditação de nada quando uma voz fina me chamou. Abri um dos olhos e vi Adele que falava a falta de sono. Sorri e sentei-me na cama. Cocei a nuca e fiquei a olhar para ela.- Vamos jogar alguma coisa? Tem alguma ideia?- Perguntei quando pulei para a sua cama a fim de me aproximar da minha mala que estava ao seu lado...
Mas dois raios nunca caem no mesmo lugar, mas e a cama?
A cama de Adele foi ao chão num estrondo. Eu vi a garota se embaralhar entre os panos e tentei pega-la, mas terminei batendo meu braço na quina da mesa e sentindo uma fisgada. Levantei-me rapidamente e tirei o travesseiro do rosto da garota.- ADELE. Você está bem?- Disse segurando meu braço. Dessa vez não tinha tido graça, eu fiquei duplamente envergonhado e Adele parecia assutada.- Eu não quis te matar... Acho que o barman vai decapitar a gente.- Sorri rapidamente e logo fiquei sério.

Adele parecia não ter ligado para a queda, mas havia se machucado e tudo por culpa minha. Ainda vermelho, abri uma malinha e peguei um gel massageador e entreguei para ela.- É trouxa, mas serve.- Disse levantando os braços para cima como quem tivesse tirando um peso das costas, mas logo senti uma fisgada no cotovelo e o abaixei. Sorri ao escutar a garota falar do barman e olhei para a mesma arqueando uma sobrancelha.- Ora, terei que sair pela janela.- Gargalhei.- A Madness e a Raven vão ser as percussoras da vez. Vão dizer que escutaram até coisas.- Falei arrumando os pedaços da cama.
Sentei na cama do meio vendo a garota fazer o mesmo ao lado da minha mala e levantei-me assim que ela comentou sobre me bater.- Não, não faz isso. Eu danço!- Então me apoiei em um pé e comecei a imitar uma bailarina enquanto cantarolava lago dos Cisnes.- Ainda vai me bater?- Falei fazendo um bico e fazendo aquela voz estranha de francês.

De todos os micos que eu já havia passado sozinho, aquele era o pior de todos e a ousadia da garota ainda a fez me criticar. Sorri e cruzei os braços vendo ela se gabar de dança e novamente arqueei  a sobrancelha.- Uma pena se isso seu não fosse recalque.- Fingi andar feito uma bicha e logo escutei a sua tese sobre a cama. Mas se ela achava que eu ia dormir no chão... estava certa. Mas não ia sair barato.
Assim que ela bateu no meu braço eu sorri e fitei seus olhos.- Ah, não vou mesmo, coisinha.- Apressei-me e deitei então na cama... mas para variar.
A cama rebentou e eu comecei a grita contra o travesseiro com dor no meu cotovelo que com certeza, agora teria magoado. Não queria pagar aquele mico perante a garota e então me sentei forçando um sorriso.- Acho que não temos mais camas...- Disse segurando o braço e tentando esconder a dor.- Vou colocar os colchões no chão.

Eu olhava para a garota enquanto ela massageava seu braço. Sorria. Nunca ninguém, a não ser Karen e Milla, teve tanta preocupação comigo. Geralmente cobravam de mim a atenção. Mas Adele não, era diferente.
Olhava para a garota, fiquei tão perdido que não percebi o momento que sua mão chegou ao meu braço e apenas senti a fisgada. Como um beliscão que me fazia acordar de um sonho alucinante.- Ah, o que é isso? Hospital? Não é preciso, além do mais, odeio hospitais.- Disse olhando para o braço.
A garota então me guiou até um canto seguro e arrumou todo o quarto. Eu não podia deixar de sorrir com aquela dificuldade que ela tinha para arrumar as coisas, mas no fim até que o arranjo ficou bom.- Olha, tá pronta para casar... ou não.- Gargalhei enquanto deixava a garota me guiar e me acomodar no colchão.- Eu faço cada merda...- Suspirei.

Ainda com a mão no braço, olhava para a Adele e observava seus olhos. Seu sorriso e escutava suas palavras como melodias. Balancei então a cabeça, havia novamente entrado em um estado de alienação temporal. Ou seja, eu não fazia ideia do que estava acontecendo, apenas escutei a última pergunta da garota.- Ah, eu vinha com a minha irmã e sua melhor amiga. Mas elas desistiram de última hora e eu não quis adiar meus planos. Mas acho que já estou me arrependendo por saudades.
Ajeitei-me no travesseiro.
-Mas não foi essa a besteira que fiz, moça. Já estou acostumado em quebrar as coisas...

Olhava para a garota  e concordava com a cabeça sobre o fato de viajar sozinho. Milla agora não teria o pratinho com chocolates na porta do quarto toda manhã, pois eu não estava lá e prometi que apenas voltaria para casa no fim das férias, agora a saudade apertava. Sorri e olhei para Adele quando ela pediu para que Peter falasse das besteiras que ele fazia.- Nós somos gêmeos... passamos todo tempo juntos e você agora sorrindo me fez lembrar da Milla... mas eu não tenho coragem de voltar...
Cruzei os braços e me cobri. Bocejei involuntariamente e observei Adele. Observei novamente e vi que havia me aberto com a garota. Seja lá o que era que Adele tinha,já eramos íntimos. Não fazia mal nenhum lhe fazer aquela proposta louca. Já fiz tanta proposta doidas para as garotas, mas pela primeira vez senti medo de um "não".- Você poderia ir comigo...

Sorri para Adele quando a mesma concordou em ir comigo ver a Milla. Nós eramos tão recentes e tão íntimos. Havia uma algo que nos fazia ser tão simples e inocente um com o outro. Eu mesmo jamais aguentaria ficar com uma garota no mesmo quarto que eu sem ao menos dar em cima dela, mas a Adele era diferente. Ela não era um numeral e sim o artigo. Era delicada e rígida, era uma verdadeira flor. Novamente eu tinha dormido acordado. Se tivesse levado mais tempo, tinha cochilado. Sorri para Adele e beijei sua bochecha sem qualquer maldade ou tentativa. O beijo foi mais perto da orelha do que da boca, eu me sentia anestesiado. O que a Raven tinha colocado naquela bebida?- Boa noite.- Desejei e então me virei, Adele depois de um certo tempo fez o mesmo.
No dia seguinte arrumamos o quarto, eu paguei a diária inteira para cobrir a cama e comprei roupas novas para Adele. Ela ficou divina. Contou-me sobre sua família enquanto eu pegava minhas malas e eu sobre a minha. Em pouco tempo, eramos íntimos. Eu e a Adele saímos do local.