Sala do Ministro da Magia

O crocitar dos corvos me acordaram às cinco e meia da manhã. As pálpebras estavam pesadas, como um pedido para não abrir os olhos. Girei o corpo na cama, batendo contra as costas de Michael. Toquei sua nunca com a ponta dos dedos, aproximando meus lábios, mordiscando o lóbulo de sua orelha. Acorde, Mike. Amor, está na hora de acordar. A sobrancelha esquerda se ergueu, e a expressão de incerteza brotou em minha face. Levantei-me, virando o corpo para cima do corpo de Michael. Amor! Não seja dorminhoco. Michael?

Os meus olhos começaram a lacrimejar ao perceber o que havia acontecido. Levei ambas as mãos até o rosto, sentindo as lágrimas começarem a escorrer até meus dedos. Afastei-me e sentei à beira da cama. Não conseguia acreditar no que estava vendo. Faltou ar em meus pulmões, os céus se fecharam, o claro se tornou escuro. Michael estava morto.

Coloquei a mão esquerda na testa, franzino o cenho, fungando. Aproximei-me novamente, virando o corpo de Michael para cima, sentando sobre o mesmo. Coloquei ambas as mãos do lado esquerdo de seu peite e pressionei. Volta, Michael. Acorde! Sabe que não gosto dessas brincadeiras. Amor. Meus olhos lacrimejavam cada vez mais, inundando minha face com as gotas salgadas. Deite-me sobre ele, o abraçando forte, deixando uma de minhas orelhas tocarem seu peito. Nenhum batimento cardíaco.

Levantei novamente, me aproximando da janela. O vento gélido percorreu meu corpo, fazendo a pele alva e macia se arrepiar. Abaixei a cabeça, fechando os olhos, apenas sentindo as lágrimas escorrerem. Olhei para o céu, tentando medir o tempo, mas apenas sabia que iria me atrasar para o trabalho. Mas não podia. Era o meu primeiro dia como escrivã pessoal do ministro da magia. Minha primeira promoção.

Sentei-me à mesa da cozinha, colocando uma folha de pergaminho e um tinteiro ao lado. Escrevi um longo bilhete e pedi a coruja para que entregasse ao diretor do St. Mungus. Voltei para o quarto, deitei ao lado do corpo frio de Michael e o abracei. Acariciei o seu abdome, o dedilhando bem devagar. Levantei a cabeça, o olhei fixamente e esbocei um breve sorriso. Eu te amo, meu amor. Você foi um herói, suportou tudo e todos. Escolheu vir para esse mundo, mesmo não possuindo magia. Porém, a própria magia estava em sua mente e coração. Ergui a cabeça, depositando um lento e demorado beijo em seus lábios gelados.

Logo os medibruxos chegaram, pedindo para que eu me afastasse. Como poderiam pedir tal coisa? Meu noivo estava morto. Um deles era psicólogo, e foi justamente o que me puxou para trás, tirando da cama. Virei o rosto, cravando os dentes em seu braço. O olhei fixamente nos olhos, sentindo meus lábios cada vez mais trêmulos. Virei o rosto para o lado, ouvindo o que eles diziam. Os deixei no quarto e fui para o banheiro. Após um rápido banho, coloquei um vestido negro, colado ao corpo. Aproximei-me do espelho do banheiro, observando o meu reflexo. Apenas um reflexo vazio, derrotado, fraco, estático.
Ao sair do banheiro, cruzei os braços, puxando as mangas do blazer azul escuro. Coloquei alguns fios de cabelo atrás da orelha, olhei para a cama e ela estava vazia. Umedeci o lábio inferior e me virei de costas, saindo pela porta do pequeno apartamento.

Desci as escadas e, ao me aproximar da porta, fechei os olhos, aparatando do prédio. Em alguns minutos desaparatei no Átrio do Ministério da Magia Britânico. Meu coração estava apertado, doía em angustia e medo. Mordisquei o lábio inferior, posando a mão direita sobre o coração. Respirei fundo, tentando não deixar a tristeza transparecer. Meu primeiro dia como escrivã; dia da morte de meu noivo. As nuvens choravam sobre minha cabeça, mas era impossível sentir suas lágrimas frias sobre meu corpo.

Os dedos tocaram lentamente a garganta, apertando devagar. Fechei os olhos e me dirigi lentamente até o setor administrativo. Logo estava na porta da sala de Philipp, o ministro da magia. Respirei fundo, passando os dedos nos olhos, secando as lágrimas. Ergui a cabeça, dando dois toques na porta. Esbocei um falso sorriso ao ver o ministro e o cumprimentei. Sentei-me a mesa que estava ao canto de sua sala, olhei para baixo e depois levantei o rosto.
— A secretária me informou que o senhor terá duas reuniões hoje. Adiantei alguns documentos para a primeira, mas preciso que o senhor traga os papéis sobre as moradias públicas e, dessa forma, colocarei na pasta junto aos outros papéis que levará para a segunda reunião.

Desviei o olhar, pois não conseguiria olhar para o ministro. Encolhi-me entre mesa e cadeira, deixando meu corpo espremido. Coloquei os rolos de pergaminhos sobre a mesa, posicionei a pena e o tinteiro e olhei para o piso.
— O senhor precisará de mim em algumas das reuniões, ou a secretária irá acompanha-lo?
Inclinei a cabeça para trás, deixando um pesado suspiro escapar. A respiração estava forte, os pulmões quase doíam. Joguei os cabelos para trás, logo os prendendo num coque frouxo. Ajeitei a franja, respirei fundo e engoli a saliva. Os óculos quase caíam do meu rosto, mas a vontade era de jogá-los contra a parede. Empurrei os óculos com o dedo indicador, apoiando o queixo numa das mãos. Molhei a ponta da pena na tinta e comecei a escrever.


“Bom dia,

Venho por meio desta avisá-los que, Phillipp Shacklebolt, ministro da magia britânico, comparecerá a reunião que foi prorrogada no mês de maio. É crucial que todos os juízes, secretários e chefes de gabinetes, estejam presentes no local e data que lhes foi enviado no convite.




Enrolei o pergaminho, me aproximei da mesa de Philipp e o entreguei a cópia do que tinha escrito. Mantendo o olhar desfocado, deixei um suspiro escapar. — Esta é apenas uma cópia do aviso. O que está comigo terá várias cópias feitas, e elas serão pregadas nos quadros de avisos e enviadas para os ministeriais. — Ergui a cabeça, deixando meus olhos pela primeira fez encontrarem o rosto do homem. — Irei à procura da secretária. Com licença, senhor ministro. — virei-me de costas, sentindo meus cabelos caírem e aquecerem a nuca fria e desnuda. Abri a porta devagar, logo saindo da sala de Philipp e a fechei lentamente. Desejava de forma árdua que o mesmo não tenha percebido meu estado de humor, muito menos os olhos inchados. Não queria ter duas perdas na mesma manhã